sábado, 17 de novembro de 2012

Ninguém vê

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Eu sei que ninguém mais cede o lugar no ônibus, ou na fila do banco. Quase ninguém escreve cartas, nem anda sorrindo pela rua. Em frente a minha janela tem um prédio, e atrás dele outros e outros três ao lado, e assim por diante. Eu também não consigo ver o sol. Eu não o vejo se por, não o vejo nascer. Eu sei que o sol está brilhando só porque sinto um calor perto das quatro da tarde. Algo sempre está me limitando. 
Eu aposto que você não sabe diferenciar as flores pelo cheiro, eu também não sei. O jardim de ontem era florido e ninguém lembrou. Nenhum de nós pensou em apostar quem conseguia acertar mais flores, nenhum de nós ao menos tentou cheirar alguma delas. O egoísmo sempre ocupa muito espaço e nisso a gente não repara. Eu sempre vejo as pessoas falarem sobre estrelas e eu mesma sempre falo delas, mas nenhum de nós repara que os prédios do nosso bairro disputam pra ver qual é mais alto. As ruas são cheias de placas e quando olhamos para cima, normalmente contamos quantos andares tem o maior prédio. Mas nós nunca contamos estrelas, nem conversamos com elas. Nós nunca nos preocupamos em marcar um passeio para ver o céu livre. 
A nossa rotina esmaga as estrelas, deixa o nosso céu carregado. Eu não conheço o meu vizinho, apesar de morar aqui a mais de anos. Eu o vejo passar perto do portão todos os dias, mas mesmo assim não o conheço. Porque conhecer não é cumprimentar com os olhos e assentir com a cabeça. E hoje em dia quase ninguém se conhece, quase ninguém se preocupa em ocupar um espaço consideravelmente grande na vida do outro. Ninguém se lembra de fazer a diferença com o melhor sorriso, com o melhor abraço. Quem se acha melhor contando as notas que leva no bolso, nunca se lembra de fechar os olhos e contar os amigos. 
Coitados de nós que não vemos que o simples da vida fica escondido para os olhos de quem quer ver. Que o bonito se espalhou pelo caminho e não no ato de chegar. A textura do mundo cabe na ponta dos dedos, mas nisso ninguém repara.

Brenda Viegas

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